O vendedor de maconha



Deixem que eu lhes pinte o cenário: 1992, o sol da tarde de um domingo qualquer de fevereiro ainda brilhava forte sobre os tórax nús dos beribanos que caminhavam ao lado do asfalto quente proximo a saída do Bairro. Já passavam das 16hs quando os três, ao descerem  o ladeirâo, alí onde geralmente os milicos realizam suas blitz, deram de frente com outros três beribanos do barro vermelho, voltando também do nada melhor para fazer e do ócio forçado a que a maioria das crianças e adolescentes moradores das periferias eram obrigados a mergulharem seus dias. Pele mestiça, algumas tatuagens, cabelos descoloridos, geometria da idade, beirando todos os 16 anos, descalços, vestindo somente bermuda e boné. Exibiam no caminhar as exigências de ser e as espertizes forçadas as quais estavam submetidos à gerações. Entre eles existiam uma antipatia alimentada por brigas e resenhas envolvendo disputas com Pipa, habilidades na bicicleta,  nos mangues, nos rio,  peladas de rua, jogo de gude, piâo, capoeira, brigas de galo, e mais recentemente, as "competições" de salto das pontes da cidade. Se exibiam equilibrando-se sobre as barras de proteção laterais chamando  a atenção de pedestres e motoristas. Além desse passatempo, as brigas no murro, e de hora marcada, eram bastante comuns, acontecia geralmente no campinho ou no pó de serra, quase sempre após os "Babas"(bate-bola) em alguma das áreas neutras da comunidade. Aquém das rivalidades duas coisas eram comuns à todos: A satisfação no deboche e a disposição de competirem em tudo. Os grupos eram em sua maioria composto por meninos, mas desde do surgimento no bairro em 96 do clube de baile funk, que as meninas estavam cada vez mais envolvidas na criação de gangs que competiam na ousadia e criatividade das vestimentas e nas habilidades na dança, promovendo noites históricas e nâo raro, brigas generalizadas. 


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