Se é para morrer que seja de morte morrida.
Então, o que vc prefere? prefere morrer de morte morrida? Aha Aha Aha!!! Sei nâo hein! Está cada vez mais difícil poder fazer tal escolha, a opçâo por morte matada nos é oferecida como uma tendência que se espalha. Te tiram o direito de escolher o lugar, a forma e até mesmo o destino que darão aos teus restos. Poderá acontecer enquanto dormes, vai a padaria, compra um jornal, toma o ônibus, enquanto espera a namorada sair do trabalho, ou faz uso de algum servico publico, é uma realidade constante. Viver, na maioria das cidades brasileiras, trasnformou-se em uma tarefa cada vez mais difícil, transformaram-nos em alvos urbanos, sujeitos a todo tipo de ataques físicos e morais. Vou usar aqui o exemplo da "cidade maravilhosa", todos os dias sâo disparados milhares de tiros pela cidade do Rio de Janeiro, o IML convive com estatísticas alarmantes. Os tiros pela cidade são tantos que com o tempo vc aprende a reconhecer até mesmo o calibre das armas somente pelo som delas emitido, para muitos já se transformou em uma situaçâo banal estar sentado em frente a tv assistindo jornais cada vez mais parecidos com o programa humorístico casseta e planeta e escutar pela janela os disparos de um morro para o outro. Ah, esse é de fuzil. Enquanto durmo, o som das balas saindo de armas cada vez mais potentes se misturam aos meus sonhos e me levam para uma zona onde me vejo fugindo da polícia através dos becos de uma favela que ví pela tv. Nâo é difícil ver as balas traçantes disparadas por fuzís cortando a noite. Elas parecem estrelas cadentes, cometas riscando o céu cada vez mais escuro que separam comunidades divididas pelo tráfico, como Morro da Coroa e Morro da Mineira; Falette e a favela dos Prazeres... e por aí vai, todos possuem os seus inimigos, o que acaba sobrando para todos que estâo em volta, inclusive os próprios moradores dessas comunidades. Enquanto nossos políticos dormem em camas cada vez mais suntuosas eu, também alvo dessa guerra, vou me abaixando na janela do meu quarto enquanto assisto a mais um show pirotécnico patrocinado pelas milícias rivais à comunidade onde moro, dessa vez eles foram pontuais, meia-noite em ponto o céu foi pintado durante dez minutos de diversas cores remetendo-me e, a todos que àquela hora estavam acordados, à marquês de sapucaí e suas ostentaçôes transmitidas ao vivo para um público cada vez mais alienado.
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